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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Postal de Holanda

outeiroseco, 29.04.11

O pessoal aqui do Blogue deseja-vos uma boa estadia pelas terras das Tulipas. Agradecemos a partilha dessas maravilhas.

 

Keukenhof

Há sempre algo que se identifica, com as estações do ano. A neve com o inverno, a praia com o verão, as castanhas com o outono, e as flores, pese embora haja flores durante o ano inteiro, ligam-se com a primavera.

Na Holanda, onde me encontro actualmente de visita ao meu filho, a primavera, é efectivamente a estação das flores, nomeadamente, das tulipas que, são uma cultura exclusivamente desta época do ano.

Por falar em tulipas e, para quem tiver a oportunidade de visitar a Holanda, ainda que possa ver vários campos de tulipas, que, por serem plantadas por espécies, e por cores diferentes, dão aos campos uma beleza extraordinária, não deixem de visitar o Keukenhof, um parque a cerca de vinte quilómetros de Amsterdão, onde se podem observar todo o tipo de tulipas e outras espécies do mais belo que se possa imaginar.

Para ilustrar um pouco o que disse aí vão algumas imagens do Keukenhof, espero que gostem.

De Amsterdão com saudades,

Nuno Santos


“Cercós Bigairo”

outeiroseco, 27.04.11

Em Outeiro Seco, poucos desconhecerão esta expressão “Cercós Bigairo”. Porém, o que nem todos saberão, é qual a sua origem. A estória remonta à década de trinta e tem como actores principais, o José Chaves conhecido por Zé “Lindo”, alcunha que se transmitiu depois aos seus os filhos, e Manuel Vigário, que devido à característica pronúncia do norte, era conhecido na aldeia por “Bigairo”, ambos em eterno descanso.

O Manuel Vigário era um barrosão do Pedrário, concelho de Montalegre que, viera para Outeiro Seco, como feitor da família Campilho, à época, uma das famílias mais abastadas de Outeiro Seco, e cujo património passou depois para a família Montalvão.

Após a sua morte, a família de Manuel Vigário imigrou para Lisboa, onde residem as suas filhas, Céu e Berta, preservando na aldeia o seu património, nomeadamente, a casa junto ao rigueiro pequeno, onde regularmente passam as férias de verão.   

Diz-se agora que esta geração anda à rasca, mas as condições de vida dessa época eram bem mais difíceis que as de hoje, e não só a dos portugueses, porquanto, estava-se no apogeu da 2ª guerra mundial, com carências de todos os géneros, nomeadamente os alimentícios, vigorando até o racionamento alimentar. De modo que no verão, muitas bocas alimentavam-se apenas da fruta que iam apanhando pelo monte.

Para evitar esses abusos, o Zé Lindo e o Bigairo que, eram proprietários de vinhas no Vale de Salgueiro, guardavam religiosamente as suas uvas, e o Zé Lindo presunçosamente até, gabava-se no largo do tanque que nas suas uvas ninguém tocava.

Na época havia em Outeiro Seco muitos rebanhos, e por consequência, muitos pastores. Foi então que dois pastores o Zé Pispalhas e o Zé Garrilha, não tanto por necessidade, mas mais por pirraça e para contrariar a presunção do Zé Lindo, aproveitando uma ligeira distracção deste, introduziram-se na sua vinha e cortaram uvas para eles e para os outros que lhes ficaram de guarda ao gado.

Quando o Zé Lindo se apercebeu da presença dos dois rapazes na vinha, desatou a correr em seu alcance, porém devido à diferença de idades, os rapazes ganharam-lhe um grande avanço. Só que dirigiram-se em direcção da vinha do Manuel Vigário. Foi então que o Zé Lindo gritou para o amigo - “Cercós Bigairo” “Cercós Bigairo”.

À noite no largo do tanque, ponto de encontro da mocidade, os rapazes gabaram-se da sua façanha e a expressão “Cercós Bigairo” pegou de tal forma que, sempre que os jovens viam passar o sr. Manuel Vigário gritava; - Cercós Bigairo, Cercós Bigairo.  

Esta expressão incomodava de tal forma o sr. Manuel Vigário, que quando ia para o monte, não passava no largo do tanque, só para não ser vexado pelos rapazes. Saía da sua casa no Pontão, e, utilizava o caminho do Campo da Veiga, seguindo depois pela Lamarelha até ao Papeiro, atravessando o rio nas Fontainhas.

Nuno Santos 

25 de Abril, renovar a esperança

outeiroseco, 25.04.11
  

Exposição sobre o 25 de Abril no Espaço'Arte da Escola Sec. Dr. Júlio Martins

Hoje comemora-se o dia 25 de Abril, também conhecido pela revolução dos cravos. Dizem uns que hoje se vive muito melhor, outros sentem-se desiludidos com os compromissos da revolução.

Cada um sentirá na “pele” os efeitos provocados, mas os conceitos de liberdade de expressão e reunião, embora condicionados por alguma pseudo-democracia, consideram-se duas conquistas fundamentais.

Também se divulgou em alguns órgãos de informação que o 25 de Abril já não se ensina nas escolas…é um facto que o este capítulo fica para o final e nem sempre é devidamente explorado. Por isso aqui se mostra uma pequena iniciativa que há Escolas que o lembram e ensinam este acontecimento de outras formas.

Um bom feriado para todos e desfrutem deste dia maravilhoso..ofereça um cravo a alguém

Uma Corrida de Páscoa que já é afamada

outeiroseco, 22.04.11

Decorreu, hoje de manhã, a XXII Corrida Páscoa e a VI caminhada. Os atletas compareceram em elevado número, cerca de 150 e a organização esteve em bom nível. O tempo não ajudou muito e o circuito foi considerado muito exigente...os atletas consideram-no tipo “prova corta mato”, pelo que a organização tem de reflectir no circuito para o próximo ano. De qualquer modo todas as provas, para os mais jovens e a prova rainha decorreram com perfeita normalidade e os resultados foram imediatos graças às novas tecnologias. Pelas 13h00 tudo estava concluído. Parabéns à organização e a todos os apoiantes que tornaram possível a realização de uma das maiores provas da região. Deixamos algumas fotos que dão bem uma ideia da participação de atletas que habitualmente repetem esta prova, bem como alguns nossos conterrâneos com destaque para o Vitorino, Beto e Dª Augusta. Em tempos de crise não se pode fazer muito melhor.

XXIII Corrida da Páscoa e VI Caminhada são já na Sexta-feira

outeiroseco, 20.04.11

Numa organização da Casa de Cultura de Outeiro Seco vai realizar-se na próxima Sexta-feira, a partir das 9,30, a tradicional Corrida da Páscoa e uma Caminhada. A concentração realiza-se no Largo do Tanque, no centro da localidade e espera-se que continue a ser uma das maiores corridas da região. Esperamos que corra tudo bem, nomeadamente com o tempo que algumas vezes no fez algumas surpresas. Venham todos ver ou participar nestas provas desportivas que são o orgulho da nossa terra.

O meu primeiro relógio

outeiroseco, 13.04.11

O meu primeiro relógio andou na guerra, é literalmente assim. Era um relógio marca Butex, andou na guerra colonial em Angola com o meu tio Alfredo, no longínquo ano de 1961, o ano em que esta guerra se iniciou.

Ofereceu-mo no ano de 1970, quando veio à metrópole gozar a sua primeira graciosa. A metrópole era como os ultramarinos designavam o país continental. Também lhe chamavam o “puto”, para vincar a desproporcionalidade existente, entre o território do continente com as colónias.

A graciosa, era um período de férias de quatro meses, ao qual só alguns funcionários radicados em África tinham direito. Para os nossos conterrâneos que exerciam esse direito, as férias começavam em Junho e, só terminavam em finais de Setembro, porque era condição essencial passarem a festa da Sra. da Azinheira, na aldeia.

O meu tio comprou na ourivesaria Ribeiro, onde actualmente é a ourivesaria do César, um novo relógio, marca Lancia que tinha como slogan (se o seu relógio não é Lancia, lance-o fora e compre um Lancia) e ofereceu-me como prémio, por mérito escolar, o seu velho Butex.

Mas se o relógio ao meu tio sobreviveu à guerra colonial, a mim, infelizmente sobreviveu-me pouco tempo, um ano ou pouco mais.

O início da década de setenta, por causa do crescente fluxo de emigração para França foi uma época de viragem na agricultura. Não havia gente suficiente para executar as grandes tarefas agrícolas, como as cegadas, e a mecanização da agricultura, estava a dar os seus primeiros passos na região, de modo que as máquinas ceifeiras ou cegadeiras como também lhe chamavam, não chegavam para suprir as necessidades.

Os lavradores viam-se por isso, obrigados a fazer essas tarefas com a prata da casa, ou, recorriam ao trabalho comunitário dos vizinhos, o chamado torna jeira.

Por isso nesse ano, a nossa cegada foi feita com recursos caseiros, tendo eu próprio sido um dos recursos. E depois de um dia inteiro a cegar, no Campo da Veiga, à noite, eu ainda reunia energias para ir treinar, como forma de preparação para o jogo de futebol que, iríamos fazer nesse domingo a Loivos.

O treino era ministrado pelo Flávio, e consistia numa corrida em coluna tipo tropa, até ao campo queimado. De vez em quando, parávamos e fazíamos umas flexões, actividade que eu próprio fizera durante todo o dia a cegar. Mas “como quem corre por gosto não cansa”, o treino era para mim, a actividade mais ligeira do dia.

Como o equipamento utilizado no treino, era o mesmo utilizado no trabalho, e, porque a concentração dos atletas era largo do tanque logo ao por do sol, para não ter de ir a casa, lavei-me logo na mãe de água, do Campo da Veiga.

Só no domingo, enquanto aguardávamos no largo do tanque a chegada do autocarro, previamente alugado à Auto Viação de Braga para nos levar a Loivos, e andava eu todo vaidoso a pavonear-me com um saco azul a tiracolo, onde guardava o meu equipamento, o meu pai, reparou que não tinha o relógio no pulso.

De imediato fui a casa, mas não encontrei o relógio. Lembrei-me então que na véspera, o tinha tirado do pulso, quando me lavei na mãe de água. Corri que nem um queniano até ao campo da veiga, na esperança que relógio ainda lá estivesse, mas infelizmente não estava, regressando ao tanque sem o relógio. O meu pai quando me viu sem o relógio, disse-me que de castigo, não iria a Loivos.

È fácil imaginar a minha desilusão. Valeu-me na circunstância o meu tio Miguel Novais que era um dos assistentes que ia na excursão, e virando-se para o meu pai sentenciou.

 – O rapaz vai a Loivos, porque eu tenho lá em casa um relógio que era do Henrique, e fica para ele.

Acabei por ganhar o meu segundo relógio, marca “Packard” e fui a Loivos, participando num jogo histórico da nossa equipa, onde empatamos a um golo. Sem qualquer presunção, creio que até fui eu o autor do golo do empate.

O velho Butex jamais apareceu, a minha mãe, ainda pediu ao Sr. Padre João, para anunciar na missa a sua perda, mas o facto é que ninguém se acusou com o achado.

Nuno Santos

 

  

  

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