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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

O Entrudo

outeiroseco, 15.02.07

Longe vão os tempos em que passado o Natal, o Tio Ranheta, com o seu ar sério, dizia junto ao cruzeiro que já tinha na “loje” sete caretos, vindos da Galiza. Para os alimentar uma fornada de pão não lhe chegava para três dias e uma pá do reco já tinha marchado. Um chamava-se, arrasa montanhas, outro o papa léguas, o da gadanha, eu sei lá. Os garotos de Outeiro Seco que ouviam, viviam temerosos uns, ansiosos outros pela chegada do Entrudo.
 Começava logo no domingo magro, com o desfile das “madames”, contando com a participação de jovens caretos e distribuição de forretes e farinha. Mas tudo se resguardava para o fim de semana seguinte, o domingo gordo.
Chegado esse dia, mantinha-se a tradição do típico almoço da época, o paloio ou a bexiga, alternando estes, entre o domingo e a terça-feira, mais a orelheira e pé fumado, acompanhados de batatas e grelos, menu que noutras terras se chama o cozido à portuguesa. Terminado o repasto toda a população ia para a rua. Tudo isto é, os rapazes, porque as raparigas, apesar de não quererem perder pitada, posicionavam-se estrategicamente, bem cedo, em varandas implantadas ao longo da rua central.
Ainda sem a digestão feita, lá vinham os caretos, sempre vestidos com trajes femininos, disfarçados com caretas compradas na cidade, na loja Plastic, mais conhecida por “caretas”, outras feitas com pele de coelho seca e um sarrão na mão. Os caretos corriam atrás dos jovens evitando de levarem com o pesado sarrão. Em simultâneo desfilavam as “madames” quase sempre homens, vestidos de mulher com a cara tapada, ficando sempre o suspense, quem eram os mascarados. Havia todos os anos figuras reincidentes, como o homem das formigas, papel desempenhado pelo Sr. Mário Ferreiro, a venda do queijo, que consistia em propagandear a venda do queijo, mostrando-se depois o produto, que era, nem mais nem menos, o traseiro de um voluntário mais descarado. Caminhando para o fim da tarde, vinha então a parte mais lúdica, a cargo do Lépido Ferrador e do Roxo (meu pai) que durante anos animaram os Entrudos da minha infância. Ficaram célebres os números da Fábrica de Pentes, que consistia num grupo numeroso de miúdos que faziam vários movimentos descoordenados dando ideia de uma linha de montagem ou as famosas Meias Baiona. “Comprem senhoras as meias Baiona que chegam da ponta dos pés até à Cooooomprem senhoras comprem.” 
Com o decorrer dos anos perdeu-se a terminologia do Entrudo e passou a designar-se por Carnaval. Em Outeiro Seco a Casa de Cultura, foi ainda responsável pela realização de alguns corsos. Após o desfile pela aldeia, o corso percorria as principais artérias da cidade que, não havendo tradição do carnaval, animou-a durante alguns anos, tendo terminado devido à desmotivação da organização e alguns ovos atingirem os participantes, registando-se mesmo alguma troca de “mimos”.
Hoje o Carnaval em Outeiro Seco tal como na cidade, à excepção do desfile das crianças das escolas, é uma sensaboria, nada se passa, vale o facto de haver futebol, ou então ir até Verin para ver passar o ainda, Entroido.
Nuno Santos
(postal de Lisboa)