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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

A vingança serviu-se quente

outeiroseco, 28.11.11

 Actualmente está muito em voga falar-se de “bulling” entre os jovens, e com frequência vemos e lemos, notícias destes acontecimentos, ocorridos em escolas, e alguns até mediatizados depois nas redes sociais.

Mas muitos de nós, ainda que com outra designação, já conhecíamos essa prática, não só da nossa escola, mas também, da nossa rua ou do nosso bairro.

Foi por causa de uma dessas cenas de garotos, que o Pregoero, (António Pereira)  já casado e pai de filhos, deu uns tabefes no Quim Rabachinhas, ainda miúdo, por ter importunado uma das suas filhas, numa dessas cenas de garotos.

O Quim que em jovem, era extremamente travesso, apanhado de surpresa, não pode esquivar-se, mas jurou a si mesmo vingar-se da afronta.

O Pregoero vivia tal como uma boa parte da população, nos anos trinta e quarenta, com grandes dificuldades. Moravam nos Pelâmes numa casa térrea, defronte às poldras do caleão, (a mesma, onde anos mais tarde, uns mariolas foram fechados, enquanto comiam os pêssegos furtados no Cotrão) para aumentar a área habitável da casa, construíra-lhe uma espécie de avançado, com uma ramagem de amieiro.

Estava-se em pleno Verão e por isso, a ramagem estava seca e de fácil volatilidade. Apesar de se dizer que, a vingança serve-se fria, o Quim contrariou essa máxima e decidiu servi-la quente.

Numa manhã de domingo, quando o povo estava na missa, aproveitando a ausência dos moradores, chegou fogo à ramagem, e escapuliu-se para casa sem ser visto.

Foi um Deus nos acuda, alguém do adro da igreja viu surgir um fumo negro do fundo do povo, identificando-o logo como um incêndio. Sem mais delongas e sem pedir autorização ao padre, começou a tocar o sino a rebate. Os fiéis que estavam dentro da igreja, também não pediram autorização ao padre para sair, e com o espírito bombeiro que, foi sempre um apanágio do nosso povo, correram à procura dos meios mais adequados, para combater o incêndio.

Quando chegaram, ainda salvaram a parte da casa construída em pedra, mas o avançado, esse foi consumido pelas chamas, ficando assim cumprida a vingança a quente. 

Nuno Santos

Em dia de greve, a globalização e o aperto

outeiroseco, 24.11.11
 
  
  
 

Hoje decorreu uma greve nacional com uma elevada adesão, mostrando o descontentamento pelas políticas de austeridade para alguns.
Afinal de quem é a culpa da crise? Não será que a globalização é um fator importante. As imagens, mostram-nos como se trabalha em alguns países que hoje dominam o mundo...e por isso é preciso apertar o cinto.

A Tia Bispa

outeiroseco, 17.11.11
 

Há muitos anos viveu na aldeia uma senhora, oriunda da Torre de Ervededo, que por ser muito dedicada à igreja, ficou conhecida por tia Bispa. Ao que parece, seria até uma espécie beata falsa, pois segundo se diz, o seu único filho que cedo emigrou para o Brasil, não era do seu homem, o velho Cambado mas de uma relação extra.

A tia Bispa morava no Penedo, na antiga casa da Maximina, actual casa da Celeste e do Alcino, muito próximo da igreja. Por trás da igreja, na célebre casa do Tear situada na Quinta dos Montalvões, morava o Padre Carlos, que utilizava como acesso à igreja, uma porta existente atrás do adro, agora desactivada. Talvez porque tinha esta serventia, o Padre Carlos mandou fechar como o muro ainda existente, as duas portas laterais de acesso ao adro, uma do lado do Penedo, a outra junto à entrada da casa D. Ritinha do Rio, que tanta polémica agora tem gerado, por causa da dificuldade que as pessoas com reduzida mobilidade, sentem para subirem a escadaria principal, quando vão à missa.

A motivação para o Padre mandar fechar estas portas, foi ao que parece, vedar a entrada no adro de animais domésticos, nomeadamente as galinhas e porcos que, antigamente, circulavam livremente pelas ruas. Diz-se até que o Padre Carlos, tinha uma fobia qualquer com os galos, em especialmente os madrugadores, ao ponto da Tia Bispa, sempre solícita ao serviço da igreja e do padre, andar de madrugar a calar os galos e cães, para que estes não perturbassem o sono do Sr. Padre.

A tia Bispa vivia com algumas dificuldades, razão pela qual passava grande parte do seu tempo de inverno junto dos fornos, onde punha a conversa em dia, ainda lhe davam umas brasas para se aquecer à noite.

Um certo dia em que isso aconteceu, pediu a dois mariolas, o Silvestre e ao seu primo Quim Novais, mais conhecido por “Rabachinhas”, que lhes levassem as brasas a casa, mas que as colocassem apenas no cimo das escadas, e não entrassem.

A mãe do Silvestre que na época explorava o forno do Có colocou as brasas num caldeiro, e lá foram eles rumo ao Penedo, a casa da tia Bispa. Durante o caminho, foi-lhes germinando na mente, qual a razão porque a tia Bispa, tanto lhes recomendou para não entrarem, e que colocassem apenas as brasas, no cimo das escadas.

Lá chegados, não resistiram à tentação da curiosidade, e abrindo a porta da casa, fechada apenas com o caravelho de madeira, encontraram a razão da sua preocupação. Em cima da mesa depararam-se com uma cestinha de maças amarelinhas, cujo aroma era mesmo tentador. Estava assim descoberto o segredo da tia Bispa, e  escusado será dizer que mais uma vez, a ração não foi para quem estava talhada, mas para quem a comeu,  neste caso foram os dois mariolas Silvestre e Quim Rabachinhas, que se deliciaram com as maçãs destinadas à tia Bispa .

Nuno Santos

  

  

 

Tradicional magusto comunitário em O. Seco

outeiroseco, 14.11.11
 
  
  
  
  
  

Realizou-se, ontem, a realização do tradicional magusto, aberto a toda a população, numa organização conjunta da Junta de Freguesia, e das Associações,  Casa de Cultura e Mãos Amigas. O convívio ocorreu no novo espaço coberto, anexo aos balneários do polidesportivo, e que mereceu a aprovação de todos os presentes. Foi agradável o ambiente, com várias gerações presentes, e nada faltou..., as sardinhas,  fêveras,  castanhas e o caldo verde, tudo bem sustentado pelas tradicionais bebidas típicas. As fotos dão uma mostra do que ocorreu, à exceção das expressões e conversas, sempre bem animadas, que só quem participa diretamente é sabe o valor destas manifestações populares. Parabéns para a organização, correu tudo na perfeição e até para o próximo ano.

S. Martinho em O. Seco festeja-se Domingo

outeiroseco, 11.11.11
 
 
 

Na página oficial da Junta de freguesia encontra-se um convite com o seguinte teor

“São Martinho em Outeiro Seco - Domingo dia 13 de Novembro

Magusto comunitário

Convida-se toda a população para mais um encontro de amigos e para a partilha de bons momentos de convívio... há castanha assada, bom vinho, petiscos e (animação….)

Contamos com todos, pelas 15:00

LOCAL: Junto ao Polidesportivo

Organização: Junta de Freguesia, Casa de Cultura e Associação Mãos Amigas”


Por isso vamos todos festejar o tradicional S. Martinho, tendo a Junta de Freguesia construido uma cobertura fixa, anexa aos balneários do polidesportivo, para uma eventualidade de estar mau tempo. Desejos de bom S. Martinho para todos, com muita saúde e alegria

 

No tempo das castanhas

outeiroseco, 08.11.11

Diariamente vemos e ouvimos opinadores, para não lhe chamar antes profetas da desgraça, afirmando que os tempos que se aproximam, vão regredir aos tempos do passado.

Para os mais jovens que não passaram por essas restrições, isso poderá parecer uma ficção, mas de facto, até ao início da década de sessenta, a vida não foi fácil para a generalidade da população portuguesa.

Essas restrições foram de todo o género, parafraseando o poeta das canções Sérgio Godinho, da paz ao pão da habitação à saúde, educação, passando também pela liberdade.

As populações rurais, pelo menos no tocante à alimentação, lá iam disfarçando essas carências com o que a terra dava, apesar de dar pouco. Nesta altura do ano por exemplo, eram as castanhas cozidas, complementadas com um bom caldo de feijão e couves, que serviam de base à alimentação de muitas famílias.

 Antes a nossa veiga estava pejada de soutos de castanheiros, iam da ponte do Sabugueiro à foz do rio pequeno. Mas Infelizmente nem todas as famílias tinham castanheiros, razão pela qual um dia, um chefe de família que tinha em casa umas seis bocas para alimentar, levantou-se de manhã bem cedo, e munido de uma cesta, foi a um dos soutos mais próximos da aldeia, com o propósito de apanhar as castanhas que durante a noite tinham pingado dos ouriços, antecipando-se assim aos seus proprietários.

Tinha o nosso homem começado a apanhar as primeiras castanhas, quando ouviu uma voz cavernosa, vinda não sabe de onde, que lhe disse.

 - Hum! Madrugaste!

O homem interrompeu a apanha das castanhas olhando na direcção de onde vinha a voz, mas não viu viv’alma. Estarrecido com o tom daquela voz, acrescido ao facto de se sentir em transgressão, pegou na cesta e zarpou de imediato para casa, com meia dúzia de castanhas no fundo da cesta.

O certo é que este homem, viveu sempre com aquele enigma. De quem seria a voz que, ouviu nesse dia? A voz do dono do souto não era porque a conhecia ele bem. 

Nuno Santos

 

O Dilema

outeiroseco, 03.11.11
 

 

Todos nós já fomos confrontados ao longo da vida com dilemas, uns mais fáceis de resolução, outros mais difíceis. Quero dar-vos testemunho de um dilema que me aconteceu, vai fazer 31 anos no próximo dia 24 de Agosto.

Todos sabem da minha paixão pelo futebol, e pelo Sporting, ora nesse dia 24 de Agosto de 1980, era um domingo, e por sinal, o dia em que se iniciava o campeonato nacional de futebol.

Na época os jogos disputavam-se todos à tarde, sem direito a transmissão na televisão, porque os jogos televisionados eram apenas os da selecção, e alguns jogos internacionais dos clubes, mas só quando se disputavam fora.

Ora, quis o capricho do sorteio, que, o primeiro jogo do campeonato fosse um Sporting – Porto. Como os adeptos andavam famintos de bola por causa do interregno do verão, durante a semana houve uma grande correria aos bilhetes, e eu claro, adquiri logo o meu na quinta-feira anterior.

Só que madrugada desse domingo a minha mulher, que estava já no final da gravidez entrou em trabalho de parto, e logo de manhã cedo deu entrada na maternidade Alfredo da Costa, onde após longo sofrimento dela, e trabalho aturado dos médicos e assistentes, só deu à luz às quatro horas da tarde.

Entretanto eu do lado de fora esperava ansiosamente por notícias que tardavam, e à hora da visita das duas da tarde, eu não tinha ninguém para visitar, porquanto, os trabalhos de parto ainda persistiam.

Vi-me então confrontado com o dilema – Sendo portador de um bilhete para o futebol, e com a próxima visita só às 19 horas, o que fazia eu ali especado do lado de fora à espera?

Resolvi então ir ao estádio José de Alvalade ver o jogo. Infelizmente o Sporting perdeu por 1-0, com um golo de Teixeira, mas em compensação, quando o jogo acabou, eu acabara de ganhar o meu filho Pedro, que para alegria do pai é também sportinguista, ainda que mais moderado, e ponha a razão acima da emoção.

A Celeste é que levou anos a digerir o facto de, à mesma hora em que ela sofria para ser mãe, eu trocara esse momento, para sofrer pelo meu clube. São dilemas difíceis de resolver, mas eu ainda hoje, acho que o resolvi bem.

Nuno Santos   

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