A nossa amiga Leonor Moreira, que muitos outeiro secanos conhecerão apenas por Norinha da professora, publicou no blog da sua aldeia natal a Amoinha Nova, o qual zelosamente administra, em cooperação com alguns membros da sua família, um post, sobre uma cabana propriedade da família.
Esta cabana ao que parece, trás à sua família recordações muitos especiais, porque era onde os pais guardavam as alfaias, e outros bens produzidos na propriedade, entre os quais as cebolas.
O post trouxe-me à memória, as muitas cabanas que, outrora pululavam pelo nosso termo, e às quais chamávamos “corriças” apesar da palavra nem figurar nos dicionários on line.
As nossas corriças ou cabanas, na sua a maioria em ruínas, tinham um fim diferente. Destinavam-se a refúgio dos pastores e do gado, outras mais pequenas e construídas no meio das vinhas, serviam aos seus proprietários, para guarda das uvas, e para as pausas do almoço, quando ali andavam, nas suas lides.
De entre muitas dessas cabanas, a que eu mais recordo, porque passei ali bons momentos, era de uma que existia na Portela, propriedade da minha família, precisamente no local onde o meu primo Ramiro construiu a sua casa.
Viviam-se tempos diferentes em matéria de segurança dos bens, por isso, esta cabana ou barraca como nós lhe chamávamos, era também utilizada para guardar alguns bens agrícolas, entre os quais, o feno ou os cuanhos da malhada.
Por causa da sua dimensão e boas condições, esta cabana serviu ainda para várias comemorações, primeiro da minha mãe e das minhas tias, mais tarde das minhas primas, mas também minhas e do meu irmão Diamantino, para juntamente com outros amigos da nossa idade, comemorarmos os compadres e as comadres, longe das vistas das mães.
A comemoração dos compadres e das comadres era uma tradição antiga, caída infelizmente como a maioria das tradições em desuso. Comemoravam-se nas duas quintas-feiras antes do carnaval. Primeiro eram os compadres, na penúltima quinta-feira, as comadres eram na última quinta-feira que antecedia o carnaval. Fazia-se uma merenda à base de fumeiro (linguiças) roubado às mães, ainda que muitas vezes, estas, saudosas do tempo em que também foram jovens, no-lo davam, às escondidas dos pais.
As mães, comemoravam depois na véspera do domingo gordo, o sábado filhoeiro, fazendo filhoses iguais ás do natal, para toda a família.
Este tema bucólico, em contraste com esta minha vida urbana na capital, traz-me à memória a bela canção da saudosa Elis Regina, “ Eu quero uma casa no campo”.
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais
Nuno Santos