A CUF e a SAPEC concorrentes nos diversos produtos que fabricavam e comercializavam, em Chaves basicamente só vendiam adubo. Essa feroz concorrência começava logo junto do governo, pela concessão das minas onde extraíam as pirites com que fabricavam depois os adubos.
Na província essa concorrência era diluída, estando mesmo condenados a viver paredes meias, por causa da forma como o produto era transportado, em vagões do comboio. Logo, tinham de se instalar o mais próximo possível da estação dos comboios.
A CUF – Companhia União Fabril, era o maior grupo económico português antes do 25 de Abril, fora fundado nos finais do século XIX, por Alfredo da Silva, avô dos actuais donos do Grupo Mello, e tinha as suas fábricas no Barreiro e em Estarreja.
A SAPEC, fundada pelo belga Antoine Velges, e mais tarde administrada pelo seu filho, Frederic Velges, tinha as suas minas na zona de Grândola, e as fábricas em Setúbal.
Em Chaves estavam sedeadas paredes meias, na avenida do Stadium, agora representadas por uma única empresa a Lusadúbal. Ora a CP não transportava só o adubo destas duas empresas, abastecia todo o mercado local, nomeadamente, os Armazéns Silva e Mocho, recebendo regularmente toda a gama de produtos, entre os quais, os fardos de bacalhau.
Um dia os carregadores da SAPEC que, se moviam nas instalações da CP, como se tivessem livre-trânsito, vendo num dos vagões, uns fardos de bacalhau já vistoriados pelo Sr. Paulo, uma espécie de fiel de armazém da CP, decidem entre eles retirar umas quantas folhas.
Foi o Iscas o mais resolvido, que, rapando da navalha, fez um golpe num dos sacos, retirando quatro folhas do fiel amigo, o qual mergulharam depois num bidon com água, ficando ali de molho.
Quando o funcionário do Silva e Môcho foi levantar a mercadoria, apercebeu-se da anomalia, e apresentou queixa ao Sr. Paulo, ficando muito aflito, pois não se tinha apercebido de nenhuma anormalidade, quando vistoriou a carga.
Disse-lhe que apresentasse o caso à gerência, e que ele arcaria com as consequências, caso as houvesse.
Passados uns dias quando os carregadores acharam que o bacalhau estava no ponto, pediram uma grande travessa na taberna do Russo, para onde desfiaram o bacalhau, puseram-lhe bastante cebola e regaram-no bem com azeite.
Mas não deixaram de avisar o Sr. Paulo da CP, de que nesse dia, lá para as quatro da tarde, tinham um belo petisco. Ora o Sr. Paulo era um lambeiro, e estava sempre disponível para os petiscos, de modo que à hora marcada lá apareceu.
Com a mesa posta em cima dos sacos, o Sr. Paulo deliciado com o petisco só dizia -Que bela punheta de bacalhau! Que bela punheta de bacalhau!
Foi então que se lhe fez luz, e disse.
- Hã! Não me digam que este bacalhau é o que faltou ao Silva e Môcho?
O grupo desatou numa gargalhada, o Sr. Paulo ficou por alguns momentos constrangido, mas como também não sofrera qualquer consequência, só rematou.
Malandros! Mas olhai que me soube bem, estava uma bela punheta.
Nuno Santos