Chegou o rio! Chegou o rio
Desta vez foi o Joaquim Ferrador quem deu a boa nova, e mais uma vez o “vaidoso” chegou a um domingo mantendo a sua tradição de se fazer aparecer neste dia da semana.
É que sendo domingo, o povo ao passar na ponte a caminho da missa, pode vê-lo a espraiar-se no seu leito há muito preparado para a sua chegada. Se chegasse num dia de semana, haveria gente que ocupado nos seus afazeres, só daria por ele, quando porventura passasse na ponte.
A chegada do rio é sempre um acontecimento marcante na aldeia. Mesmo para quem mora longe nas conversas com a família pergunta.
- O rio já chegou?
- Ainda não e bem falta nos faz!
- Faz-lhe falta! P’ra quê?
- Olha para lavarmos alguma roupa.
- Homessa! Agora com um tanque no pátio e a máquina de lavar em casa.
- Oh, mas não é a mesma coisa.
A outra coisa é o convívio que o rio permite entre as mulheres do povo, cada vez mais ligadas nos programas da televisão, e menos às conversas com os vizinhos.
Longe vão os tempos das grandes colónias de lavadouros, que se estendiam das Fontainhas aos Pelames, e das cantorias das mulheres enquanto lavavam as roupas e os cântaros do leite. Umas procuravam os lavadouros onde houvesse maior concentração de mulheres precisamente para melhor cuscarem. Outras mais reservadas preferiam os lavadouros mais afastados. Era o caso da Zulmira também ela leiteira que do seu canto cantava:
A salgueira quando cresce / Deita a raiz para o lodo / Eu não falo de ninguém / De mim fala o povo todo.
Quando o sobreiro der vaga / E a cortiça for ao fundo / Só então se hão-de acabar / As más línguas deste mundo.
Um beijinho para a Zulmira recentemente operada e as suas rápidas melhoras.
Nuno Santos