Postal de Lisboa - A minha 1ª internacionalização
Como estamos numa semana importante, do ponto de vista futebolístico, aqui deixamos um post dedicado a um episódio local, retratado no capítulo - "Postal de Lisboa", autoria do amigo e colaborador Nuno Santos. Aproveitamos para lançar o desafio...será que o amigo Nuno está nesta foto? O 1º a adivinhar será agraciado com um prémio a preceito.
Sem ter sido uma grande estrela futebolística, orgulho-me de ter no meu palmarés desportivo, um registo, que é acessível a poucos desportistas. Duvido até que o Figo e o Cristiano Ronaldo, já distinguidos com o prémio de melhores futebolistas do mundo, tenham atingido esse feito tão cedo como eu, que fui internacional com apenas nove anos.
Bem sei que foi em Feces de Abajo, logo ali do outro lado do rio, mas não deixou de ser um jogo num país estrangeiro e por isso um jogo internacional. Este jogo tinha sido previamente combinado pelo Belmiro Baptista, cujos pais, a tia Ana Moucha e o Júlio Roriz, viviam da actividade do contrabando e, por via disso, ia muitas vezes a Feces, onde conhecia jovens filhos de comerciantes locais, onde se abasteciam.
Na época, as fronteiras ainda não eram livres, atravessava-se a fronteira passando a salto pelo rio Tâmega. De inverno, na barca do Amoedo, ou do Xico moleiro. De verão, com as águas menos profundas, atravessava-se pelo açude, ou mais acima, junto ao moinho de Vila Meã. Foi precisamente na represa do moinho que nós atravessamos, rumo ao campo da bola de Feces de Abajo, como se fossemos um pequeno exército, preparado para uma batalha.
E com efeito, o jogo em breve redundou numa batalha. Ganhávamos por um zero, com o golo marcado pelo Eduardo Cruz, quando o árbitro que era de Feces de Abajo, marcou um penalti contra nós. Pese embora a nossa contestação, o penalti foi marcado. Só que o Vitorino que era o nosso guarda-redes, numa agilidade felina defendeu a bola. Entretanto, um miúdo que estava por trás da baliza agrediu o Vitorino, com uma racha de lenha na cabeça, obrigando este a largar a bola, e aproveitando o avançado galego a fazer a recarga, para o golo.
Gerou-se de novo um grande sururu, acabando nós com a roupa nos braços fugindo à frente dos galegos, rumo ao outro lado da fronteira, que no caso, era o rio. Lá chegados, virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Carregados os bolsos de pedras das muitas que havia nas margens do rio, iniciamos um contra ataque e metendo os galegosem casa. Foi uma dupla vitória lusa, no campo desportivo e no campo da luta. Ao mesmo tempo, foi mais uma escaramuça transfronteiriça, das muitas que houve nestes lugares, ao longo dos séculos.
Nuno Santos