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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

“Cercós Bigairo”

outeiroseco, 27.04.11

Em Outeiro Seco, poucos desconhecerão esta expressão “Cercós Bigairo”. Porém, o que nem todos saberão, é qual a sua origem. A estória remonta à década de trinta e tem como actores principais, o José Chaves conhecido por Zé “Lindo”, alcunha que se transmitiu depois aos seus os filhos, e Manuel Vigário, que devido à característica pronúncia do norte, era conhecido na aldeia por “Bigairo”, ambos em eterno descanso.

O Manuel Vigário era um barrosão do Pedrário, concelho de Montalegre que, viera para Outeiro Seco, como feitor da família Campilho, à época, uma das famílias mais abastadas de Outeiro Seco, e cujo património passou depois para a família Montalvão.

Após a sua morte, a família de Manuel Vigário imigrou para Lisboa, onde residem as suas filhas, Céu e Berta, preservando na aldeia o seu património, nomeadamente, a casa junto ao rigueiro pequeno, onde regularmente passam as férias de verão.   

Diz-se agora que esta geração anda à rasca, mas as condições de vida dessa época eram bem mais difíceis que as de hoje, e não só a dos portugueses, porquanto, estava-se no apogeu da 2ª guerra mundial, com carências de todos os géneros, nomeadamente os alimentícios, vigorando até o racionamento alimentar. De modo que no verão, muitas bocas alimentavam-se apenas da fruta que iam apanhando pelo monte.

Para evitar esses abusos, o Zé Lindo e o Bigairo que, eram proprietários de vinhas no Vale de Salgueiro, guardavam religiosamente as suas uvas, e o Zé Lindo presunçosamente até, gabava-se no largo do tanque que nas suas uvas ninguém tocava.

Na época havia em Outeiro Seco muitos rebanhos, e por consequência, muitos pastores. Foi então que dois pastores o Zé Pispalhas e o Zé Garrilha, não tanto por necessidade, mas mais por pirraça e para contrariar a presunção do Zé Lindo, aproveitando uma ligeira distracção deste, introduziram-se na sua vinha e cortaram uvas para eles e para os outros que lhes ficaram de guarda ao gado.

Quando o Zé Lindo se apercebeu da presença dos dois rapazes na vinha, desatou a correr em seu alcance, porém devido à diferença de idades, os rapazes ganharam-lhe um grande avanço. Só que dirigiram-se em direcção da vinha do Manuel Vigário. Foi então que o Zé Lindo gritou para o amigo - “Cercós Bigairo” “Cercós Bigairo”.

À noite no largo do tanque, ponto de encontro da mocidade, os rapazes gabaram-se da sua façanha e a expressão “Cercós Bigairo” pegou de tal forma que, sempre que os jovens viam passar o sr. Manuel Vigário gritava; - Cercós Bigairo, Cercós Bigairo.  

Esta expressão incomodava de tal forma o sr. Manuel Vigário, que quando ia para o monte, não passava no largo do tanque, só para não ser vexado pelos rapazes. Saía da sua casa no Pontão, e, utilizava o caminho do Campo da Veiga, seguindo depois pela Lamarelha até ao Papeiro, atravessando o rio nas Fontainhas.

Nuno Santos 

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