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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

O susto do Padre Dias

outeiroseco, 07.06.11

A população mais jovem da aldeia e que não mora no bairro do Penedo, não estará por certo familiarizada com o nome de Carneiro. Para eles, Carneiro será um animal de raça ovina, ainda que em Outeiro Seco, esteja quase em vias de extinção, comparado com o tempo em que houve na aldeia, mais de trinta rebanhos.

Este Carneiro a que nos referimos, é um grande quintal da família Dias Ferreira, antes apenas família Tenreiro Dias. É uma propriedade com alguma dimensão, composta por instalações de arrumos e terreno de cultivo donde colhiam de tudo para a casa, embora hoje, tal como acontece com grande parte dos terrenos desta freguesia, este quintal esteja de pousio.

Pelo Carneiro passaram muitas jovens em idade escolar, pois era aqui que a professora D. Maria Eugénia Ferreira Dias fazia a preparação suplementar, às alunas que se propunham ao exame de admissão à Escola e ao Liceu.

Era no Carneiro onde o Padre Albano Dias, um dos herdeiros da propriedade, e que após a sua resignação eclesiástica passava o seu tempo de lazer, especialmente no verão, sentando-se junto ao poço da bomba, à sombra de uma frondosa figueira.

Por essa altura vivia-se um período de pouca abundância em matéria de alimentação, e por contradição, as famílias eram muito numerosas. Assim chegando o verão época da fruta, os miúdos buscavam-na onde a houvesse, sem preservarem a sua propriedade. Era frequente ver pelos terrenos da veiga, barracas feitas de ramagens de árvores, onde os donos dormiam só para guardarem os melões e as melancias. Mas também viam-se árvores, como as cerdeiras (cerejeiras) silvadas, isto é, com um bardo de silvas onde terminava o tronco, impedindo assim que a garotada lá subisse.

Mas voltando ao Carneiro, um dia dois jovens por sinal moradores no bairro, vizinhos e muito amigos, o António Roxo e Carlos Martinho, planearam ir aos figos ao Carneiro. Vendo a área desimpedida, entraram pela eira do Redonda, e lá ficaram eles durante algum tempo em cima da figueira, a saciar-se com os belos figos de três ao prato.

A certa altura olharam para baixo e o que viram, o senhor Padre Dias sentado no lugar do costume, refastelando-se com a sombra da figueira.

Aflitos com a forma como se iriam desembaraçar da situação, aguardaram em silêncio durante algum tempo, na esperança que ele regressasse a casa. Como tal não acontecia e a hora dos seus afazeres se aproximava, como a figueira estava junto à parede que separava o Carneiro da eira do Redonda, pensaram em saltar directamente da figueira para a parede, e desta para o chão da eira.

Assim o pensaram e assim o fizeram, só que tal exercício, implicou um enorme barulho na ramagem da figueira e na parede, onde se soltaram algumas pedras.

Ora o padre Dias que, descansadamente dormitava debaixo da figueira, perante aquele reboliço acordou sobressaltado, fugiu em direcção a casa, nem levando bengala, onde habitualmente se apoiava.

Nuno Santos

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