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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

A estória de uma fuga

outeiroseco, 08.12.11
 

Para mim os Santos, são sobretudo ir ver o concurso do gado e, comer o polvo à galega do Manolo. Neste ano pude mais uma vez cumprir essa tradição, e quis o acaso que me reencontrasse com o Sérgio, o filho mais velho do Manolo, o qual vive em Espanha por causa de um episódio, onde eu por casualidade também participei.

Foi em meados da década de sessenta, e a economia começava já a dar alguns sinais de desenvolvimento, ao ponto do senhor Manolo que, fazia as todas as feiras do gado da região vendendo as suas rações de polvo cozido, como só ele sabe fazer, como o negócio prosperasse, adquirira recentemente uma carrinha Volkswagen de cor branca e vermelha, cujo modelo era designado por “pão de forma”.

Num domingo após o almoço, o Sérgio que pese embora não fosse encartado, aproveitando a sesta do pai, pegou nas chaves da carrinha, e foi até à nossa aldeia, um trajecto curto, pois moravam e ainda moram na Estrada de Outeiro Seco. Nesse domingo primaveril, quase de verão, havia no estádio municipal o derby transmontano, entre o Chaves e o Vila Real, um jogo que na época não deixava ninguém indiferente, tal a rivalidade existente.

 O Sérgio parando a carrinha no tanque, o lugar do nosso ponto de encontro, abriu as portas traseiras e perguntou!

– Quem quer vir à bola?

De imediato uma chusma de rapazes, na qual eu estava incluído, correu para dentro da carrinha, ocupando a parte de trás, destinada à carga, já que o banco da frente estava destinado ao Silvério, filho do senhor Firmino com o qual o Manolo, tinha uma relação especial num negócio, e segundo diziam as más-línguas, lhes dava mais rendimento que o polvo.

Num de repente a carrinha ficou cheia e lá fomos, amontoados como carga para a feira. Chegados ao Pontão em frente da casa do senhor Firmino, o Sérgio distraiu-se para ver se o Silvério já estava pronto, e perdeu o controle da carrinha que, embateu numa pedra junto à valeta, onde agora está a casa do Eliseu.

Foi um Deus nos acuda, caímos uns sobre os outros, o Agostinho Moura que vinha à janela, fez um pequeno golpe debaixo do papo, o Cesário bateu com a cabeça no tejadilho e fez um pequeno galo, os restantes não tiveram perigo. Como a carrinha ficou um pouco amassada com o embate, o Sérgio, com medo das represálias do pai que não era bom de assoar, fugiu para Espanha, para casa da avó, onde esteve muitos anos sem regressar a Portugal, ainda que se dissesse que era para também fugir à guerra colonial.  

Mas o tempo tudo sara, e nos últimos anos, o Sérgio tem vindo a Portugal, ajudando a família no negócio, que foi de uma vida, mas que agora só se limitam a fazer a feira dos Santos, onde este ano eu revivi com ele esse episódio, passado que foram tantos mas que curiosamente tanto eu como ele nos lembramos de todas as incidências.

Essa carrinha foi depois vendida ao Agostinho Gomes (Redes), servindo para transportar os instrumentos das suas bandas, primeiro os Leaders, depois os New Leaders, ao som dos quais muitas vezes dancei ao som do Kill me softly, do Can’ t live withouth you e tantas outras canções cantadas pelo Luís Portugal o vocalista do grupo.

Nuno Santos

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