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Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

Outeiro Seco, Tradição e Modernidade

Aldeia transmontana

O Roncal, um lugar com história

outeiroseco, 25.01.12
 

O Roncal é uma pequena área da nossa freguesia, que, em conjunto com uma pequena parte da Portela, constituem uma espécie de ilha, só que em vez cercados por água por todos os lados, estão cercados por estradas, senão vejamos:

A sul têm o cruzamento da Sra. da Portela, a norte a Variante das Antas, a nascente a estrada das Antas, e a poente a estrada municipal. É ainda um local abençoado por dois templos, a Sra. da Portela a sul e o Sr. Dos Desamparados a norte.

Outrora apenas terra centieira e com algumas manchas de pinhal, era um terreno muito difícil de amanhar. Diz o Manuel Torres que um ferro de arado, não dava para duas manhãs de lavoura, em benefício dos dois ferreiros da terra, o Mário e o seu primo Zé, ambos Madeiras de nome, apesar de trabalharem o ferro.

Mas tudo é composto de mudança e o Roncal, está agora convertido num misto de área residencial, industrial, e agrícola, com particular destaque para a pastorícia do Zé da Irmã, ou as multiculturas que existem na quinta do nosso amigo Ulisses, que vão da aquacultura, à floricultura, passando pela vinha mas também culturas mediterrânicas como as amêndoas e outras.

O Roncal é um local com história, porque ali se fazia a guarda avançada da aldeia, dos inimigos que vinham do norte. Dizem que foi ali que um grupo de populares esperou os franceses, quando na 2ª invasão, mas avistada a enorme coluna que apareceu na pequena ladeira da Ribeira antes das Antas, rápido desmobilizaram tal a desproporcionalidade das forças em confronto.

Também numa manhã de domingo de Fevereiro do ano de 1941, depois da missa, o povo acorreu ali em peso, para ver o que restava, do pinhal, e se ali havia pinheiros grandes. Só que uns estavam cortados pelo meio, outros vergados e com as raízes à mostra, devido à força do vento ciclónico que soprara durante a noite e que varreu o país de norte a sul.

Mas ainda restaram alguns e talvez por este pinhal ficar à beira da estrada, era frequentemente utilizado para bivaques da tropa, ou para acampamento dos escuteiros flavienses, e de outros movimentos.

Na década de sessenta, recordo-me de um acampamento dos estudantes da mocidade portuguesa, do qual faziam parte, alguns nomes agora conhecidos na cidade, mas também estudantes da nossa aldeia. De salientar que a mocidade portuguesa, criada no ano de 1936 pelo Estado Novo, inspirada na juventude hitleriana do III Reich, era uma disciplina obrigatória no ensino.

Um dos comandantes do acampamento era o actual Prof. Nuno Rodrigues, cujo espírito de liderança se revelava já nesse tempo. Diziam que era também um brilhante jogador de andebol, tendo desenvolvido até uma técnica de remate, composto de salto com rotação de 360º. O guarda-redes ficava assim impossibilitado de saber qual a direcção que bola tomava quando lhe sai das mãos, chamando-lhe o remate à Nuno.

O acampamento foi um acontecimento inusitado para a garotada da aldeia, comigo incluído. Foi a tropa que serviu as refeições, dando um toque mais real a este movimento paramilitar. Acontece que por qualquer circunstância, o comandante Nuno ouviu o meu nome, que à época não muito vulgar, aliás, eu era o único Nuno da aldeia. Essa coincidência valeu-me uma discriminação positiva, pois tive direito a um prato de rancho e um casqueiro. Foi a primeira e última vez que comi comida da tropa, pois quando chegou a altura de eu ir às sortes, passei à reserva territorial, porque se tinha dado o 25 de Abril e já não eram precisos mais soldados para as colónias.

De salientar que, o primeiro habitante do Roncal foi o nosso amigo Augusto Escaleira, está situado num dos mais belos locais da aldeia, e no perímetro habilitado para construção, o que é uma aviso aos potenciais investidores.

Nuno Santos  

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